Segundo o Houaiss meiguice é: 1. qualidade de meigo; 2. sentimento, ato, dito, gesto que denota afeição, gentileza, carinho, afabilidade, bondade; 3. ato doce, suave e muito agradável, brandura; 4. gestos afetuosos, afagos, carinhos; 5. palavras gentis.
Se meiguice é tudo isso, a falta dela resulta numa tragédia cotidiana. Parece exagero dizer isso, mas não é. Fico aqui lembrando de situações que presenciei ou que amig@s me relataram.
As minhas amigas sempre reclamam da falta de gentileza dos homens que as rodeiam. Não se trata daquela gentileza “romântica” ensinada pra conquistar a mocinha. Nem se trata daquela etiqueta chata, ensinada como verniz de novo rico. Sinto na fala delas que é algo mais.
O que elas me relatam são situações aparentemente simples, mas reveladoras do que homens _ sem meiguice _ produzem e reproduzem ao lidar com mulheres e, no meu modo de ver, também com outros homens. Um gesto diz muito de uma pessoa.
Por exemplo: desconfio de quem não diz obrigado e por favor, de quem trata mal o garçom ou não coloca a cadeira de volta no lugar depois que se levanta. Desconfio de quem entra em casa sem limpar o pé no tapete ou de quem nem tapete tem diante da porta de casa. Nossa, quanta desconfiança!
Alguns gestos masculinos “naturais” me tiram do sério: dar tapa nas costas, de ser grosso “por natureza”, de ter que falar e entender, obrigatoriamente, de futebol. E de outros gestos “naturalmente” masculinos eu tenho nojo: o de coçar o saco e cuspir no chão. Isso é falta de higiene e não vale dizer que homem que é homem é assim.
Desconfio do homem que não diz bom dia e que, por medo da opinião de outros homens, abriu mão da poesia. Lembro aqui de uma situação: um de meus alunos mais inteligentes _ e bonito _ me disse uma vez: “eu gosto muito de poesia, mas não posso dizer pros meus amigos...” Rolou uma suspensão de pensamento e, no momento, eu não percebi o que ele queria me dizer.
Depois de 5 horas/aula, minha capacidade de pensar fica lenta. O tico e o teco ficam cansados, mas depois, em casa, relembrei do fato e percebi o que ele quis me dizer. Sim, ele quis me dizer que, se os amigos soubessem que ele gostava de poesia poderiam pensar que ele é gay. Fiquei me perguntando: que sociedade é capaz de produzir este tipo de pensamento?
Tempo depois, concluo: uma sociedade que abriu mão da meiguice como valor. Para esta sociedade, um homem meigo é gay, um homem gay é uma mulher e não creio que seja por acaso que as mulheres são as maiores vítimas da falta de meiguice. Mas, na verdade, a maior vítima da ausência da meiguice são os homens, porque ficam aprisionados na brutalidade que a sociedade lhes deu como “natural”.
Também desconfio muito deste “natural”. Mas isto já é assunto pra um outro post.
Obrigado por me acompanharem e beijos a tod@s!
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